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A Sombra do Passado C1.1

A horror story by João Pereira

Numa pequena aldeia nas montanhas de Portugal, havia uma casa abandonada que todos evitavam. Diziam que, à noite, podia-se ouvir sussurros e passos, como se as almas dos que ali habitavam ainda vagassem pelos corredores. A lenda contava que, há muitos anos, uma família tinha desaparecido misteriosamente, e desde então, a casa estava amaldiçoada.

Certa noite, um grupo de amigos decidiu explorar a casa. Entre eles estava Miguel, um jovem curioso, sempre em busca de aventuras. Ele convenceu os outros a entrar, prometendo que não haveria nada de que temessem. A lua cheia iluminava o caminho, e a atmosfera estava carregada de expectativa e medo.

Assim que cruzaram a porta, um ar frio envolveu-os. As paredes estavam cobertas de mofo e as janelas, estilhaçadas. Com cada passo, o piso rangia, como se a casa estivesse acordando. Miguel liderava, iluminando o caminho com uma lanterna, enquanto os outros o seguiam relutantemente.

No centro da casa, encontraram um velho espelho coberto de pó. Quando Miguel se aproximou, sentiu uma estranha sensação, como se algo o estivesse a observar. Ele limpou o espelho com a mão e, por um breve momento, viu não apenas o seu reflexo, mas uma sombra indistinta atrás de si. Ao voltar-se, não havia nada. Rindo nervosamente, ele chamou os amigos para verem, mas quando olharam, a sombra já tinha desaparecido.

A noite avançava, e o grupo decidiu explorar os andares superiores. Cada quarto que entravam parecia mais sinistro que o anterior. Fotografias antigas nas paredes mostravam a família que ali vivera, os rostos pálidos e sombrios, como se estivessem cientes de um destino terrível. Enquanto examinavam os objetos, um dos amigos, Sofia, encontrou um diário empoeirado. As páginas estavam rasgadas, mas algumas palavras conseguiam ser lidas: "Não olhem para o espelho, ele guarda segredos que não devem ser revelados".

A tensão cresceu. Miguel, intrigado, insistiu em voltar ao espelho. Os amigos tentaram dissuadí-lo, mas a sua curiosidade era mais forte. Ao chegar ao espelho, viu novamente a sombra, agora mais definida. Era uma figura encapuzada, que parecia sussurrar o seu nome. O medo tomou conta de Miguel, mas ele não conseguia desviar o olhar.

De repente, a lanterna apagou-se, mergulhando o grupo na escuridão. Gritos ecoaram pela casa, e a figura no espelho parecia rir. Miguel, em pânico, tentou correr, mas as portas estavam agora trancadas. Os amigos, aterrorizados, começaram a bater nas janelas, mas tudo parecia em vão. A sombra finalmente falou: "Apenas um de vocês pode sair. A escolha é vossa".

A tensão entre o grupo aumentou, e a discórdia começou a surgir. Cada um queria salvar-se, mas Miguel, em um momento de clareza, decidiu que ninguém deveria ser sacrificado. Ele enfrentou a sombra e, com coragem, disse: "Nós não temos medo de ti!". Nesse instante, a figura desvaneceu-se, e a casa começou a tremer. As portas abriram-se, permitindo que todos escapassem.

Ao deixarem a casa, juraram nunca mais voltar. A lenda da casa permanecia, mas agora, Miguel sabia que a coragem e a união eram mais poderosas que qualquer sombra do passado.