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O Mistério do Bule na Galeria de Arte de Lisboa A2.2

A European Portuguese horror story by Bernardo Silva

  Era uma noite escura e tempestuosa em Lisboa. A chuva batia com força contra as janelas da antiga galeria de arte, localizada num bairro misterioso e cheio de ruelas estreitas. Lá dentro, apenas o Sr․ Vicente, o velho e peculiar dono da galeria, permanecia. Ele era conhecido por sua coleção excêntrica de artefatos antigos, muitos deles com histórias obscuras e misteriosas.

Naquela noite, o Sr․ Vicente estava a organizar a sua coleção, preparando-se para uma exposição especial. Entre os seus tesouros mais preciosos estava um antigo bule de porcelana, com um design peculiar e intrincado. Ele tinha encontrado o bule numa loja de antiguidades, há muitos anos, e sempre sentiu uma ligação estranha com ele. Dizia que o bule sussurrava segredos na escuridão.

Enquanto limpava o bule, notou algo peculiar: uma pequena inscrição quase invisível na base. Com uma lupa, conseguiu decifrar as palavras: "Libera o espírito, antes que o tempo se esgote". Um arrepio percorreu a sua espinha. Sentiu que a inscrição continha mais do que apenas palavras; continha uma advertência.

De repente, um estrondo assustador ecoou pela galeria. O Sr․ Vicente virou-se rapidamente, o coração a bater forte no peito. As luzes piscaram, mergulhando a galeria numa escuridão total. Um vento frio invadiu o espaço, e ele ouviu um sussurro gélido perto da sua orelha. "O tempo está a acabar", sibilou a voz.

Agarrado ao bule, o Sr․ Vicente tentou acender uma vela. Conseguiu, e a pequena chama iluminou o cenário assustador: sombras moviam-se pela galeria, como se algo estivesse a espreitar nas trevas. Objetos antigos pareciam se mover sozinhos, criando uma atmosfera opressiva e aterrorizante.

Naquele momento, o Sr․ Vicente percebeu que o bule não era apenas um objeto antigo; era uma chave. Uma chave para algo sobrenatural, algo que ele tinha despertado inadvertidamente. A inscrição não era uma advertência, era uma instrução. Ele tinha que libertar o espírito preso no bule, antes que fosse tarde demais.

Seguindo a intuição, o Sr․ Vicente descobriu um compartimento secreto na base do bule. Lá dentro, encontrou um pequeno pergaminho antigo. O pergaminho continha instruções para um ritual antigo, um ritual para libertar o espírito aprisionado. As instruções eram complexas e assustadoras, envolvendo incensos raros e palavras em latim.

Com as mãos trémulas, o Sr․ Vicente seguiu as instruções. O ar tornou-se denso, cheio de um aroma estranho e enjoativo. Sombras dançavam ao seu redor, e ele sentiu uma presença assustadora perto dele.

Finalmente, com o ritual concluído, um brilho intenso emanou do bule. Uma figura etérea e transparente surgiu, flutuando no ar. Era o espírito aprisionado. Era uma mulher, com um olhar triste e cansado, mas também com uma expressão de alívio ao ser libertada.

Ela agradeceu ao Sr․ Vicente pela sua ajuda, explicando que tinha sido aprisionada no bule por séculos, devido a um feitiço antigo. Ela explicou que a inscrição no bule era um pedido de socorro, uma forma de alertar alguém para a sua situação.

Depois de dizer adeus, o espírito da mulher desapareceu, deixando para trás apenas a sensação de uma profunda paz. O Sr․ Vicente sentiu um alívio imenso, mas também uma profunda sensação de mistério. Ele guardou o bule, não como uma peça de arte, mas como um lembrete de uma noite inesquecível em sua galeria de Lisboa.

Na manhã seguinte, a tempestade tinha passado, e o sol brilhava intensamente. A galeria parecia normal, mas o Sr․ Vicente sabia que algo tinha mudado. Ele tinha enfrentado o sobrenatural e sobrevivido, carregando consigo um segredo que só ele conhecia. Ele nunca mais olhou para o bule da mesma maneira. Ele continuou sua vida, mas sempre com a lembrança da noite horrível e misteriosa da galeria, o mistério resolvido, mas a lembrança sempre viva em sua memória.

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